O Bandeirante marcou época por ser um veículo muito robusto e teve frases associadas a ele como "sobe até em paredes", "um verdadeiro tanque de guerra" e o adjetivo que o marcou foi o de indestrutível. Na foto acima, um jipe de 1997
Uma picape Bandeirante, outra variação deste marcante utilitário da Toyota.
A fabricação do Bandeirante no Brasil foi iniciada em maio de 1962. Seu nome tem origem nos sertanistas do período colonial, que penetraram na América do Sul em busca de riquezas minerais e contribuíram para a expansão do território do Brasil além dos limites impostos pelo Tratado de Tordesilhas. Ficou conhecido pela sua robustez e capacidade de se deslocar em terrenos desfavoráveis aos carros de passeio. O motor era o OM-324 da Mercedes-Benz, movido a diesel. Tinha cilindrada de 3.4 litros, quatro cilindros e potência de 78 cv a 3.000 rpm, e deu ao jipe o apelido de "Britadeira". Mas tinha torque suficiente para as funções do veículo e consumo de combustível adequado. Para 1963, o jipe com capota rígida de aço passava a ser uma opção ao lado da picape com caçamba também de aço, mais tarde denominada picape de chassi curto, uma vez que havia oferta de um chassi mais longo pela Toyota. A transmissão tinha a primeira marcha muito reduzida (relação de 5,41:1), e a segunda era usada para arrancar no uso urbano; apenas a terceira e a quarta marchas eram sincronizadas. No ano seguinte, não houveram alterações mais significativas. Em 1965, uma caminhonete curta de cabine dupla com 3 portas e caçamba nativa com tampa teve um único exemplar produzido. Nos anos de 1966 e 1967, nada de mais significativo chegou ao utilitário. Para 1968, o Bandeirante alcançava 100% de produção nacional. No ano seguinte, a carroceria passava a ser feita na própria Toyota, em São Bernardo. Entre 1970 e 1972, nada de novidades. Na linha 1973, o motor OM-324 cedia a vez para o OM-314, também da marca da estrela - tinha injeção direta, 85 cv de potência e taxa de compressão menor (17:1), ante 20,5:1 do antigo. A nova motorização deu suavidade de funcionamento ao Bandeirante. Estilisticamente falando, este Toyota mudou muito pouco. As maiores mudanças foram de caráter técnico. Ao longo da década de 1970, foi mudando a nomenclatura das versões. Na primeira metade da década de 1980, mudanças técnicas importantes: caixa de câmbio com 4 marchas reais (a primeira era somente para colocar o veículo em movimento); caixa de transferência com 4x4 normal e reduzida, extremamente necessárias para o uso fora-de-estrada; juntas homocinéticas no lugar das tradicionais cruzetas (utilizadas no Corcel até 1977 e foram fonte de problemas crônicos deste Ford); redimensionamento do sistema de escapamento com novos pontos de fixação; árvore de transmissão (cardã) bipartida com rolamento central, de maneira a suavizar as vibrações do sistema; e eixo traseiro flutuante (apenas para as picapes), que oferece mais segurança, pois ocorre apenas a perda de tração em caso de quebra da semi-árvore, ao contrário do semi-flutuante, que podia fazer o motorista perder o controle do veículo. No acabamento externo, a mudança foram as maçanetas embutidas. As picapes com e sem caçamba tinham as opções de entre-eixos mais longo e de cabine dupla com esta dimensão. Na linha 1985, o painel de instrumentos passava a ser completo, com manômetro de óleo, voltímetro e conta-giros - importantes num veículo a diesel. Havia ainda relógio. Passaram a ser ofertados quebra-mato, rodas largas, faróis auxiliares e cores alegres, além do santantônio nas picapes. Em 1986, nenhuma alteração significativa. Para o ano seguinte, os freios foram redimensionados, atendendo a reclamações de usuários, pois era uma fonte de problemas crônicos do Bandeirante, e a direção hidráulica passava a ser oferecida opcionalmente. Na virada da década, o motor OM-364 - também da montadora de Stuttgart, com taxa de compressão e potência mais altas - 17,3:1 e 90 cv, na ordem, substituiu o antigo OM-314. Com isso, mais mudanças técnicas se fizeram necessárias: o sistema de escapamento teve os pontos de fixação alterados, e o filtro de ar com elemento de papel tomou o lugar do tradicional filtro a óleo. Não houveram mudanças maiores até 1993, quando foi introduzido o câmbio de cinco marchas, no qual a quarta marcha era direta (relação 1:1) e a quinta atuava como sobremarcha, reduzindo consumo e ruído em velocidades de viagem, o que o câmbio de quatro marchas não permitia. A direção hidráulica virou equipamento de série, e chegavam várias mudanças mecânicas: amortecedor de direção instalado entre as longarinas, suspensão com barras estabilizadoras, sistema de freios aperfeiçoado e válvula moduladora da força de frenagem no eixo traseiro nas picapes, para amenizar a tendência a travamento das rodas posteriores. Na linha 1994, o motor Toyota 14B substituiu o OM-364 da marca alemã. A mecânica japonesa era mais suave e potente - 96 cv ante 90 cv do antecessor, mas tinha desvantagens: não tinha a mesma força em baixas rotações e não prometia a mesma durabilidade. A Toyota enfim trocou o sistema a tambor dos freios dianteiros pelo sistema a disco - evolução em eficiência, segurança e confiabilidade, pois não dava as dores de cabeça do sistema antigo. No final da década de 1990, o Bandeirante ganhou a opção de picape cabine dupla com 4 portas, mas mostrava os sinais da idade e pedia aposentadoria, uma vez que não aguentou a concorrência com modelos nacionais mais modernos, e principalmente com os importados. Faltavam ao veterano utilitário o conforto e os refinamentos técnicos e de acabamento, sobretudo dos modelos que vinham de fora, como o Land Rover Defender. A última versão oferecida foi a Sport, com capota de lona. Nem o motor japonês, mais moderno, se enquadrava nas normas de emissões. Depois de quatro décadas, com praticamente o mesmo estilo inicial e sem a ajuda da Toyota, o Bandeirante encerrou sua longa e marcante carreira. No dia 23 de novembro de 2001, a última unidade deixava as linhas de montagem de São Bernardo do Campo(SP). O tradicional modelo que "sobe até em paredes" e que é considerado "um verdadeiro tanque de guerra" para muitos não tem e nem terá sucessor, uma vez que os utilitários esportivos de hoje oferecem mais conforto, requinte e sofisticação, ficando mais próximos de carros de passeio do que de utilitários legítimos, conhecidos pela imponência e rusticidade.
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