segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Corcel (1968 - 1986)

O Corcel deriva do Renault 12, marcou por ter sido o primeiro carro médio da Ford, e também por ser robusto, confortável e econômico. Na foto acima, um L da segunda geração.




As séries especiais, de cima para baixo: Hobby, de 1980, que tinha acabamento mais despojado e alguns itens do GT; Os Campeões, de 1983, com frisos laterais e rodas em dourado, faróis de neblina e interior bem equipado; Cinco Estrelas, oferecida também para a Belina no mesmo ano e reprisada no seguinte, vinha com conteúdo interessante; e Astro, de 1985, disponível no carro e na perua, tinha acabamento interno diferenciado, supercalotas do Del Rey GLX e maçanetas externas pretas. As opções de pintura eram Dourado Quartzo e Prata Strato, ambas metálicas. 
A campanha de 1976, que dava ênfase aos 500.000 Corcel vendidos desde o lançamento, também citou as marcas de 250.000 exemplares comercializados, atingida em 1973, e de 300.000 carros negociados, obtida em 1974.
A unidade 500.000 do Corcel, que saiu das linhas de montagem da Ford no dia 9 de junho de 1976.
Uma campanha do Corcel 500.000 mostrando os feitos do carro desde o lançamento, em 1968, até chegar a meio milhão de unidades vendidas, em 1976.
A oferta de teto solar, introduzida em 1981, quando desapareceu o GT e começou a decadência das vendas do médio da Ford, em parte devida a concorrência doméstica com o Del Rey, seu derivado lançado naquele ano.
A campanha de 1979 homenageava o Corcel ll por ter sido eleito o Carro do Ano pela revista Auto Esporte. A primeira geração obteve tal título em 1969 e 1973.
A linha 1982 apresentava os novos sistemas - suspensão, câmbio, direção, ar-condicionado, o novo cinto de segurança e a nova dupla painel/console. Os bancos com encosto de cabeça vazados davam mais conforto, melhorando a sensação de arejamento interno e a visibilidade posterior. Mas as vendas estavam em declínio. 
A campanha das 100.000 unidades vendidas, obtida em pouco tempo, mostrava que o médio da Ford manteve a ótima aceitação e estava consolidado no gosto do público.
A linha 1983 trouxe vários itens interessantes. Ainda assim, a situação do médio da Ford estava apertada, pois as vendas estavam caindo. 

Dois modelos da primeira geração deste Ford: na foto de cima, um Luxo 2 portas de 1973, e na de baixo, a campanha de lançamento da linha 1971, com um 4 portas.
O Corcel II Conversível: versão atraente do médio da Ford que não foi produzida em linha, como a marca americana faria mais tarde com o Escort XR3. Este Corcel foi uma adaptação do carro comum para conversível feita pela Sonnervig, concessionária Ford de São Paulo. Era bonito, mas foi criticado pelas vibrações.
A oferta de direção hidráulica, oferecida no Corcel justamente em seu final de carreira. Tornou o médio da Ford mais atraente, mas ainda assim o fim de linha estava próximo.
Um Corcel L de 1986, seu derradeiro ano. Apesar dos destaques como a adaptação para o álcool, o baixo consumo, o conforto, o bom acabamento, a robustez e a facilidade de manutenção, o médio da Ford estava em conflito com o Escort e com seu derivado Del Rey, e não aguentou a concorrência com o Monza, fenômeno de vendas e que faturou pelo terceiro ano seguido o título de carro brasileiro mais vendido.

Lançado em 1968, o Corcel vinha representar a Ford no segmento médio, uma vez que a fábrica ainda não oferecia um modelo que pudesse ser adquirido pelo grande público, pois até então o único carro de passageiros da marca americana era o Galaxie, de porte e segmento maiores. O médio da Ford teve a origem de seu nome numa raça de cavalos, e estreou ao mesmo tempo que seu concorrente direto, o VW 1600 quatro portas, que nunca lhe fez frente. Este tinha linhas quadradas, que lhe deram o apelido de "Zé do Caixão". Na mesma época o Opala, de outro segmento e porte avantajado, também fazia sua estréia e inaugurava a produção de automóveis da General Motors no Brasil. O Corcel trouxe recursos técnicos inéditos para seu tempo, como radiador selado e coluna de direção bipartida. A estrutura era monobloco e o motor era 1.3 de 68 cv, montado em posição longitudinal, com cinco mancais de apoio do virabrequim. A tração era dianteira. Tinha suspensão dianteira independente, por dois braços transversais superpostos, com molas helicoidais sobre o braço superior que apoiavam-se na caixa de roda, fazendo com que muita gente acreditasse que se tratava de uma suspensão McPherson. Esta suspensão se destacava por ser macia e robusta. As rodas eram de 13 polegadas com apenas três parafusos de fixação. No seu primeiro mês, o Corcel teve 4.500 unidades vendidas. No ano seguinte, o Ford foi eleito Carro do Ano pela revista Auto Esporte, título que conquistaria novamente em 1973 e 1979, e foi apresentada a carroceria de 2 portas, que foi a primeira desse tipo a derivar de um sedã 4 portas e tinha vidros laterais traseiros descendentes, como o Opala da mesma versão. Pouco depois veio o Corcel GT, também de duas portas, com teto revestido de vinil, rodas esportivas, faixas pretas laterais, grade dianteira e retrovisores também pretos, faróis de longo alcance redondos e capô preto-fosco com tomada de ar. Internamente a instrumentação era completa. O motor era 1.4 com carburador de corpo duplo em vez de simples das versões 1.3. Assim a velocidade final era de 145 km/h e a aceleração de 0 a 100 km/h era feita em 17 s. Suas vendas chegaram aos 50.000 exemplares. Por dentro, tinha bons acabamento, espaço, posição de dirigir e visibilidade. Mas a alavanca de mudança "espetada" no assoalho dianteiro, como no então futuro Fiat 147, não agradava. O porta-malas oferecia bom espaço e tinha o estepe na vertical, facilitando a troca de pneus. O capô abria de trás para a frente, com o que a segurança era beneficiada, pois em caso de destravamento involuntário, tendia a se manter fechado pela força do ar. A Ford realizou justamente com o Corcel o primeiro recall da história da indústria automobilística brasileira, devido a problemas com o alinhamento de direção, que causavam desgaste irregular dos pneus dianteiros. Constatou-se que o desalinhamento da direção estava relacionado à regulagem complicada da convergência das rodas dianteiras. As cruzetas (juntas articuladas que possibilitam tração e esterçamento das rodas) davam muitas dores de cabeça aos usuários. Corrigido o defeito do alinhamento da direção em 1971, as vendas aumentaram e chegaram a 127.000 unidades. Nada de mais relevante marcou a linha 1972. Para 1973, chegavam nova grade, com logotipo Ford no emblema redondo ao centro, outro desenho do capô, pára-lamas e lanternas traseiras, e o motor passava a ser o 1.4. A Chrysler apresentou neste mesmo ano seu concorrente Dodge 1800, que não emplacou. Também foram lançados naquela época seu irmão maior Maverick, o Chevette e o Brasília - os dois últimos de porte menor e posicionados em categoria inferior. O Corcel atingiu 250.000 exemplares. No ano de 1974, não teve mudanças importantes. O médio da Ford ganhou um novo concorrente, o Passat, e chegou a marca de 300.000 unidades. Em 1975, frente e traseira eram redesenhadas, a grade perdia o emblema e o interior era remodelado. Para se juntar às versões básica e luxo, era lançada a LDO, sigla em inglês para Decoração Luxuosa Opcional, como existia nos carros da Ford nos Estados Unidos. Por dentro era mais requintada, com forrações e bancos nas cores marrom e bege. Por fora notava-se o teto de vinil, grade cromada e rodas tipo esporte, antes usadas no GT, só que agora na cor prateadaO ano de 1976 não trouxe mudanças, mas foi o melhor ano da primeira geração em vendas, com 77.183 unidades comercializadas, a despeito da defasagem do carro, que totalizou em 9 de junho 500.000 exemplares vendidos desde o lançamento. Em 1977, não teve mudanças relevantes. Este foi o último ano do primeiro Corcel. Na linha 1978, para comemorar os 10 anos de carreira, chegava o Corcel II, em acabamentos L, LDO (com interior totalmente acarpetado e painel com aplicações em madeira) e GT (que tinha volante esportivo de três raios com aro acolchoado em preto, pequeno conta-giros no painel, faróis auxiliares e rodas com fundo preto e sobre-aro cromado). Fazia falta o marcador de temperatura, mas em contrapartida chegavam as juntas homocinéticas, melhoramento técnico inaugurado quatro anos antes pelo rival da VW, para substituir as cruzetas. As portas eram enormes e pesadas, um dos poucos defeitos reclamados pelos donos - e que perduraria até o fim de sua produção. Assim, o cinzeiro para os passageiros do banco traseiro situava-se nelas. Não havia mais opção de versão 4 portas, uma vez que os 2 portas eram a preferência nacional da época. Por dentro, painel, volante e bancos também foram redesenhados. A alavanca do freio de estacionamento passou a se situar entre estes - no modelo anterior era uma maçaneta de puxar localizada abaixo do painel. Mas a nova geração do Corcel tinha estilo moderno e elegante, bom acabamento, interior confortável e espaço interno maior. Além disso, conservou a tradição de carro econômico. Estes eram seus destaques positivos, mas em desempenho o médio da Ford perdia para os concorrentes Passat e Polara. No mesmo ano, foi oferecido o Corcel ll Conversível, que não era uma versão de fábrica como o Escort XR3 que seria lançado para 1985, e sim uma adaptação do Corcel comum feita pela Sonnervig, concessionária Ford de São Paulo(SP). Se diferenciava do modelo de série por ter rodas esportivas com sobre-aro iguais as do GT, pára-choque traseiro envolvente, bancos de couro com desenho diferenciado e reclinação em pontos definidos, freio de estacionamento sob o painel à esquerda da coluna de direção, volante de 4 raios, túnel central ligando a parte dianteira do painel à traseira (esta rebaixada em 3 cm), logotipo da Sonnervig e outros reforços estruturais, necessários para não comprometer a rigidez estrutural. O revestimento das portas e a mecânica eram os mesmos do carro de linha. A capota, por sua vez, era com armação de metal, duas camadas de lona e uma impermeabilizante. Um defeito deste modelo eram as vibrações. O Corcel ll fechou seu primeiro ano-modelo com 84.680 unidades vendidas. Em 1979, as lanternas traseiras passaram a ser caneladas. Na mecânica, vinham o esperado motor de 1.6 litro (de melhor desempenho) e o câmbio de cinco marchas, que só o Alfa Romeo possuía. A quinta era um acréscimo às outras quatro - ou seja, uma sobremarcha, e sua relação ficava próxima da quarta, pelo que a queda no regime de giros era menor do que se vê hoje na maioria dos automóveis. Pela primeira vez era usada a denominação "1.6", com o ponto em vez da vírgula, o que é incorreto no sistema métrico - o usual, naquela época, era informar os cm³, como a Volkswagen fazia em seus modelos refrigerados a ar. A opção 1.4 permanecia para quem desejava mais economia, mas ao custo de um desempenho muito modesto. Com o motor maior, a velocidade final era de 145 km/h e a aceleração de 0 a 100 km/h era feita em 17 s. Com o menor, esses números eram de 135 km/h e 23 s, na ordem. Este foi o melhor ano de vendas: 88.235 exemplares vendidos. Para a linha 1980, o Corcel recebeu ponteiras plásticas nos pára-choques em todas as versões, a série especial Hobby, que tinha acabamento despojado e alguns acessórios do GT (mas não trazia cromados nos frisos e pára-choques), e a opção de motor a álcool, que foi muito bem recebida pelos consumidores. Era identificada externamente pelos logotipos 1.6 e Álcool, sendo  este acompanhado de quatro gotas azuis em degradê. O médio da Ford tinha grandes evoluções em relação aos primeiros nacionais a combustível vegetal: não apresentava sérios problemas de corrosão, e inovou com a injeção automática de gasolina da partida a frio. Se destacava por aquecer rapidamente, vibrar pouco, se manter regulado por muito tempo e ser tão bom como a consagrada versão a combustível fóssil. A suspensão foi alterada para aprimorar a estabilidade e dar mais firmeza e segurança. Um detalhe interessante do Corcel II era a grade aerodinâmica, com lâminas inclinadas de modo a aumentar o fluxo de ar em baixas velocidades e reduzi-lo em altas. O carro começou a década de 80 fechando o ano com 78.848 exemplares, uma marca ainda razoável, e em dezembro, obteve 1 milhão de unidades produzidas, um feito até então inédito em seu segmento. Em 1981, chegavam as ofertas de teto solar (com vidro serigrafado e sem forro interno), cintos de segurança dianteiros de três pontos, pneus radiais e retrovisores externos com controle manual interno. Mas o GT desapareceu e as vendas começaram a entrar em queda livre: 45.404 exemplares. No ano seguinte, o Corcel ganhou um forte concorrente, o moderno Monza, que mais tarde se tornaria o carro mais vendido no Brasil. A concessionária paulistana Cia. Santo Amaro ofereceu a versão conversível, assim como fizera à época com o Del Rey. A situação do carro da Ford ficou mais apertada: foram vendidas 41.943 unidades. No ano seguinte, foi apresentada a série especial Cinco Estrelas, que a Belina também oferecia. Tinha volante de quatro raios, apoio de braço de luxo nas portas, conta-giros, pára-brisa laminado com faixa degradê, console de teto com relógio digital e quatro cores externas: Dourado Sierra, Azul Jamaica, Verde Astor e Cinza Nobre, todas metálicas. A outra edição limitada oferecida no mesmo ano foi a Os Campeões, que tinha pintura externa preta, frisos e rodas dourados, console de teto com relógio digital, conta-giros, freios com auxiliar a vácuo, faróis de neblina, volante de quatro raios e painel das portas com o padrão do LDO. O declínio das vendas se ratificou: 27.634 carros. Em 1984, chegava o motor CHT. A sigla significa "câmara de alta turbulência", condição para uma queima eficiente do combustível. Era o mesmo motor dos anos anteriores, mas retrabalhado nas câmaras de combustão para melhor desempenho e menor consumo. Vinham também freios dianteiros a disco ventilado, que impedem superaquecimento por uso contínuo (fading). O comprador podia optar pelo motor 1.3 ou pelo 1.6, como no Escort, então recém-lançado. Foi reprisada a série especial Cinco Estrelas, também disponível para a perua. Tinha bancos com desenho diferenciado, forração interna e maçanetas externas na cor preta e cinco opções de pintura: Cinza Nautilus, Prata Strato, Dourado Champagne, Verde Jade e Azul Marselha. Mas não havia mais a faixa degradê no pára-brisa, uma pena. O médio da Ford fechou o ano com 10.928 exemplares, sentindo o peso da idade e a concorrência com o adversário da GM, que terminou o ano como campeão de vendas, com 70.577 unidades. Em 1985, as novidades eram lanternas direcionais traseiras na cor âmbar para atender a legislação, frente inclinada e mais arredondada, nova grade, novos faróis, painel, instrumentos e volante do Del Rey básico do ano anterior. O II na traseira desaparecia. As versões eram L e GL, as mesmas do ano anterior. Os acabamentos LDO (de luxo) e GT (esportivo) já eram passado, assim como os motores 1.3 e 1.4. Vinha também neste ano a série especial Astro, com supercalotas do Del Rey GLX, acabamento interno com padronagem exclusiva e duas opções de pintura: Prata Strato e Dourado Quartzo, ambas metálicas. A agonia do Corcel continuou: 9.997 unidades vendidas, enquanto o rival da General Motors levou o bicampeonato com 75.240 exemplares, um abismo de diferença. Para 1986, o médio da Ford recebeu o motor CHT E-Max, sigla para economia máxima, a opção de direção hidráulica (há tempos solicitada pelos compradores), pois a direção mecânica era bastante pesada, e novas cores externas. Em meados do ano, com vendas em queda, o Corcel deu adeus, após mais de 1 milhão de unidades vendidas. No dia 20 de julho, a última unidade deixou as linhas de montagem da Ford em São Bernardo do Campo(SP), enquanto o modelo da marca da gravata manteve o domínio avassalador e fechou o ano com 81.960 carros negociados. Em seu último ano e nos dois anteriores, este Ford, apesar das qualidades e de destaques positivos como a adaptação para o combustível de cana, perdeu terreno, pois a marca americana passou a dedicar mais atenção ao moderno Escort e ao seu derivado Del Rey, do segmento de luxo. Aconteceu a chamada concorrência dentro de casa com o último. Mas o principal golpe contra o Corcel foi a concorrência com o Monza, também moderno e que se tornou fenômeno de vendas ao ser nestes três anos o carro brasileiro mais vendido.

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